MENSAGEM DA DIREÇÃO NACIONAL

Muitas lições se podem aprender nestes tempos de crise, dos quais iremos falar por muitos anos.

Não sendo ainda tempo de entender com segurança tudo o que se passou e se passa, vai sendo claro quais as pedras firmes que encontramos para atravessar a corrente e quais as que apenas servem para nos fazer escorregar e cair.

Nesta, como em qualquer guerra, os mais fracos são os primeiros a cair.

No entanto, nas guerras com armas e inimigo visível, há algumas regras quanto à proteção dos mais fracos. Esta guerra que travamos com este inimigo invisível não obedece a regras. Temos que ser nós os construtores dos nossos próprios abrigos.

Na linha da frente deste abrigos estão as Residências para idosos que, para alguma imprensa, não são mais que uma boa razão para enviar uns jornalistas, que devem dizer qualquer coisa para comprar audiências por baixo preço, estribando-se nos problemas e dificuldades dos outros.

Muito tem sido dito e filmado às portas e junto às paredes de muitas destas Residências e Lares, como se lá dentro não houvesse pessoas de carne e osso, a viver horas de grande angustia, pessoas que têm famílias feitas de gente viva e em grande sofrimento.

E se há alguém que morre, lá vai o arraial de câmaras, jornalistas, microfones, à procura dos culpados, sem pararem para pensar que provavelmente estão a fazer o papel do inimigo, esse sim, o verdadeiro culpado.

Vem tudo isto a propósito dos dramas vividos em muitas Residências para idosos por esse país fora, dramas que só podem merecer a compreensão e solidariedade da nossa Associação, também ela proprietária de Residências.

Foi dito pela tal imprensa que havia nas nossas Residências pessoas infectadas, ameaçadas, abandonadas, enquanto os utentes e familiares iam olhando impotentes as imagens na televisão e perguntando “afinal o que se passa?”.

Pois bem, nas nossas Residências não se passa nada, a não ser o enorme esforço financeiro, físico e emocional de Técnicos, Dirigentes e Funcionários, frequentemente fechados nas instalações durante semanas e a ansiedade dos idosos em isolamento e para quem vai sendo possível garantir cuidados e carinho redobrados.

Não há pessoas infectadas em Setúbal – assim o disseram os testes.

Até à presente data, 8 de Abril, não há pessoas sintomáticas em Carcavelos, Aveiro ou Porto, para quem, ainda assim estão em processo de execução todos os testes necessários, feitos no tempo adequado.

E é preciso dizer, ninguém aqui morreu de COVID-19.

O pessoal técnico, passado o primeiro impacto, está a regressar à normalidade, pesem embora todos os cuidados renovados que é indispensável manter, para proteção dos utentes e proteção própria e das suas famílias.

Nestas e noutras Residências por esse país fora, os combatentes desta guerra estão por detrás das paredes, as quais neste contexto são mais que paredes e são seguramente mais que fachadas para telespectador ver. Estas paredes são muitas vezes o que separa uma boa realidade de uma má ficção.

  

Ver só com os olhos é fácil e vão:

Por dentro das coisas é que as coisas são.

Carlos Queiroz, poeta (1907-1949)

 

 

Lisboa, 8 de abril

A Direção Nacional